Acordamos pra tomar o café da manhã e em seguida saímos pra conhecer melhor o bairro onde ficava o nosso hotel. Soubemos pelo guia que todos os domingos rola uma feira de antiguidades em San Telmo que não dava pra perder. Ainda com um clima meio chuvoso, rumamos em direção à Defensa. As ruas estavam todas fechadas e o transito de turistas era intenso. Antes de chegarmos na feira, encontramos por acaso o Mercado de San Telmo, que vale muito à pena conhecer. Pra quem curte artigos antigos, é um barato. Saindo do mercado, creio que na própria Calle Defensa, tem uma loja cheia de artigos com designs sensacionais pra casa - luminárias do Lichtenstein e inspiradas em jogos do atari. A feira também é muito bacana - lembrou muito o Montmartre em Paris - com muitas obras de arte, musicos e bailarinos dançando tango sob a chuva.

O mais legal dessa volta, é sem dúvida o famoso Pátio dos Ezeiza. Pelo que a gente soube, os Ezeiza era uma família riquíssima e tradicional de BsAs que deu nome também ao seu aeroporto internacional. O tal pátio é o que foi a residência da família, num estilo de arquitetura parecido com o Grande Hotel de Pelotas, mas ao contrário de lá, o prédio foi muito bem aproveitado. Cada sala da antiga mansão se tornou uma lojinha de artigos de época, todas com suas portas voltadas para o pátio aberto e chão xadrez preto e branco.
O lugar é uma viagem no tempo, tanto é que acabamos entrando em um desses estabelecimentos especializado em reproduzir fotos de época. Uma sala com centenas de figurinos e um cenário típico de fotos antigas está à disposição para que possamos fazer fotos a caráter. Na parede, centenas destas mesmas fotos feitas por celebridades que visitaram a loja, como Antonio Banderas e Gal Costa. Os fotógrafos e figurinistas são extremamente simpáticos - notamos que fazem tudo com muitíssimo gosto - e realmente invejamos o trabalho desses caras. A Leandra queria uma roupa de melindrosa e um dos atendentes prontamente gritou faceiro, "ah, Charleston!" - como se fosse uma opção rara entre os clientes. A foto é tirada e impressa em sépia na hora... pra quem quer uma lembrança divertida de uma visita a Buenos Aires, vale muito à pena desembolsar os 50 pesos.

Feita a foto, sentamos pra tomar uma cerveja. Eisenbach é muito boa. Legal que em todos os lugares que fomos e tomamos uma gelada (nem tão gelada assim, porque isso é um costume mais nosso), sempre vem um acompanhante... amendoins, batatinhas chips, sanduiches. Desse modo se economiza muito tomando uma cerveja em cada bar diferente.
Encurtamos nossa passada pelo bairro meio a contragosto. San Telmo e a feira tem tanta coisa pra ver que se tu não te controla, perde fácil fácil umas boas horas em cada banca. Tentando aproveitar ao máximo nossa curta estada, tomamos um ônibus em direção a "la boca". Achamos que era bem tranquilo de ir a pé, mas todas as pessoas que nos deram informações, recomendaram-nos que não o fizéssemos. Disseram que a zona entre San Telmo e la Boca não era bonita, que era muito pobre e perigosa para turistas. O ônibus realmente cruzou algumas partes da cidade que certamente tem o que o governo argentino não faz a menor questão de mostrar. Passamos de longe pela "bombonera", mas como nem eu nem a Leandra gostamos de futebol, não fizemos questão de chegar mais perto.

Descemos na última parada, a algumas quadras do famoso "caminito". La Boca é uma parte muito interessante por todo o valor histórico do bairro. Imagens do Carlos Gardel estão espalhadas por todos os muros. Novamente, muitos quartetos tocando tango e bailarinos fazendo belíssimas performances em plena rua. O charme do local está nas casas coloridas construidas com chapas de zinco que lembram telhas brasilit. Pelo fato de ser um antigo porto, as casas eram construídas e pintadas com restos de materiais utilizados nas reformas e pinturas dos barcos. De uma forma geral, o caminito é uma espécie de "favela pra inglês ver". Tudo perfeitamente seguro e vigiado, as cores e espetáculos se apropriam da pobreza para fazer um atrativo diferente, especialmente pra turistas que vem de lugares ricos - apesar do canal ser podre de sujo e feder muito. Não conheço o Pelourinho na Bahia, mas acredito que existe uma certa semelhança nas duas propostas de vitalização de áreas urbanas.
O passeio no caminito é jogo rápido, em uma hora ou duas se vê tudo, a não ser que se queira gastar uma grana em lembrancinhas e traquitanas pra enfeitar a casa e dar de presente. Nesse caso é um prato cheio.
A fome já batia e nada do que víamos pra comer em la bocva parecia muito apetitoso. Tomamos o mesmo ônibus de volta para San Telmo, onde havíamos visto trocentas parrilladas bacanas, mas uma em especial, bem barata - 30 pesos por casal. Já lá dentro, resolvi perguntar o que vinha na tal parrillada, visto que a Leandra não tinha assim tanta curiosidade em conhecer as carnes "exóticas". O garçom antes de tudo me perguntou de onde eu vinha. Respondi e e ele fez questão de dizer que brasileiros raramente comem alguma coisa da parrillada por serem partes de cheiro e gosto muito fortes, como rim, intestino e outras coisas que tinham nomes estranhos e ninguém sabia me dizer o que eram em português. Decidimos simplificar e optamos por um pedaço de vacio, provoletas e uma massa ao pesto, que não estavam assim sensacionais, mas cumpriram seu papel.
Panças cheias, voltamos para o hotel. Lá demos uma descansada e por volta de dez horas da noite fomos ao belíssimo show de tango do "La Cumparsita", tradicional casa localisada na Calle Chile, nº 302 em San Telmo. Escolhemos esta casa justamente pelo fato do show não ser tando direcionado a turistas e não ter a característica de espetáculo à broadway, mas sim por ser um lugar onde os próprios argentinos iriam pra curtir boa musica e dançar. Os valores de todas as casas de tango que vimos ou lemos a respeito não eram nada baratos, e o La Cumparsita não era diferente. Pagamos 90 pesos para cada, com direito a escolher entre uma garrafa de vinho, uma de champagne ou duas cervejas "porrón" (long neck) para cada. Optamos pelas cervejas que vieram acompanhadas de sanduiches. O show acompanhado de janta e bebida à vontade, saía por 120 pesos por pessoa.

Apesar de tudo, digo que cada centavo vale a pena pra ver o pequeno grupo de músicos (piano, acordeon e contrabaixo) e os 3 "crooners" sensacionais - cada um de uma geração bem diferente e com seu estilo próprio. Lá pela terceira música, entrou o casal de bailarinos mostrando seus belíssimos passos. Eu já sabia que corria o risco de ter que participar, mas realmente não esperava que viessem tão rápido à nossa mesa. Convidaram-nos para aprender os passos básicos e eu com vergonha logo disse que não queria. Surpreso fiquei ao perceber que enquanto negava o convite, lá estava a Leandra girando pelo salão. Só mais adiante, depois de ver todos os visitantes da casa experimentarem, resolvi aceitar o convite e arriscar alguns passos. Nossa, como é difícil. Não consegui parar de olhar para os meus pés e os pés da moça que me conduzia cheia de firulas que mais atrapalhava do que ajudava. A Leandra dava risada porque dancei com ginga, meio brasileiro demais pra uma dança em que a postura é tudo.

De forma geral, a noite no Cumparsita foi muito massa e recomendo muito quem estiver em Buenos Aires que vá conhecer a casa. O show tinha previsão de rolar até por volta de 3 da manhã, mas lá pelas 2 tocaram algumas milongas e o cansaço bateu. Fomos tranquilamente a pé para o hotel, felizes pelo que foi o nosso dia mais corrido de toda a viagem.
Um comentário:
Que legal tchê! Parece que se muniram de todas as informações pra desfrutar Bs.As. em pouco tempo.
As fotos estão ótimas!
O dia em que eu for conhecer, já terei um roteiro mais ou menos pronto aqui.
diegodelarocha
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