quinta-feira, 5 de março de 2009

Dia 3 - puerto madeiro, café tortoni e chuva

Acordamos tarde e perdemos o café da manhã. Demos uma boa lida no nosso guia e planejamos o que faríamos no dia. Aliás, a melhor dica pra quem vai viajar e quer conhecer muitos lugares em um tempo muito restrito é ter um guia bem completo.

O dia estava bem nublado e caía uma garoa chata estilo pelotense, mas mesmo nessas condições resolvemos caminhar até o Puerto Madeiro. Mesmo com tempo nublado, pode se dizer que o lugar tem um belo charme e é uma área revitalizada que dá muitas idéias do que fazer em algumas cidades brasileiras - especialmente no quadrado em Pelotas. O Puerto Madeiro compunha as docas de Buenos Aires, com 4 diques imensos onde chegavam os navios cargueiros. Os diques viraram o "rio sena" da cidade e os depósitos se transformaram em vários restaurantes chiques e tradicionalíssimos bistrôs de happy hour. Por causa do mau tempo, estava tudo meio vazio e bateu uma vontade de voltar lá em algum outro dia mais ensolarado.

Nos tais diques, encontram-se 2 navios históricos atracados. Visitamos o Buque Museo Fragata Sarmiento Juana M. Gorriti, localizado no dique 3. Entramos por acaso e não pagamos um centavo para entrar - e mesmo não planejada, foi uma visita válida. A fragata foi usada como aulas instrutivas de novos marinheiros e cruzou o mundo por diversas vezes. Lá dentro, pode-se conhecer muito da vida dos tripulantes nesse período: a cabine do capitão, os quartos, a cozinha e a claustrofóbica casa de máquinas. Bem interessante e recomendado.

Saindo da fragata, logo de frente, estava a Puente de la Mujer, com um design moderníssimo, obra do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, a ponte gira 90º para a passagem de barcos. Dizem que o nome da ponte vem da semelhança da mesma com a silhueta da figura feminina... pessoalmente eu não enxerguei nada disso - mesmo tendo um desenho meio orgânico e cheio de curvas... coisas de designer.

Boa dica é visitar no Puerto o quiosque de informações turísticas - lá nos forneceram mapas e instruções de ônibus e metrô. Caminhamos por várias horas e a fome já começava a bater. Os restaurantes do lugar, todos são de dar água na boca - os cardápios estão na porta pra quem quiser ver - mas são também, todos de doer o bolso. Escolhemos tapar o sol com a peneira e comemos um magnífico sorvete da Freddo, tradicional marca de "helados argentinos". Recomendo muitíssimo o sabor chocolate con almendras! Lembrei que na sorveteria tinha um bando de brasileiros com uma falta de educação absurda, tomando nosso lugar na fila e fazendo um alarde pra servir uma familia de uns 8 filhos...

Deixamos o Puerto Madeiro e saímos caminhando meio sem rumo, distanciando-nos cada vez mais em direção oposta aos diques. Por acaso acabamos chegando na famosa Casa Rosada e a Plaza de Mayo. Lá não vimos nenhuma das famosas mães, mas vimos muitos protestos pintados no chão sobre pessoas assassinadas pela policia e também um acampamento de veteranos da guerra das Malvinas não oficializados pelo governo. Não sei se é uma questão cultural, mas sempre enxerguei o povo argentino mais participativo e ativo no que toca a política e questões sociais. A Casa Rosada honestamente, não me chamou muita atenção - mas achei bastante interessante saber que o nome e a cor vem da primeira pintura do edifício, onde foi usado sangue de gado misturado a cal.
Ainda sob garoa, tomamos a avenida de mayo e fomos até o Café Tortoni. Mesmo com tantas recomendações, eu não esperava encontrar um lugar tão legal. 150 anos de tradição, o lugar respira boemia e história - a memória e cultura da Argentina estão ali. O Garcia Lorca frequentava o café! O ambiente é muito bacana e ao fundo, tem uma sala fechada que leva a um pequeno auditório onde ocorrem shows de tango no decorrer do dia. O café/capuccino mata a pau. Recomendo muito a "hamburguesa con quezo", eu ainda salivo ao pensar no sabor daquele hamburguer de dois dedos de largura. Ficamos lá um tempo, rimos com o garçon sarcástico e curtimos com os vários idiomas falados à nossa volta.

Nos encaminhamos para o hotel de metrô, que não sei porque estava gratuito naquele dia. Chegando lá relaxamos um pouco e nos arrumamos pra sair de novo. O plano era ir de metrô até Palermo curtir os bares da Plaza Serrano, mas acabamos saindo além das 10 da noite e o jeito foi procurar um ônibus. Na parada, a leve garoa começou a se transformar em temporal. Aguardamos por mais de meia hora o ônibus 95 e na entrada percebemos a rateada. Em Buenos Aires só se pega ônibus com moedinhas contadas. Não existe cobrador, apenas um caixa que só recebe moedas. Por sorte um argentino amigável trocou uma nota de 2 pesos. O segundo problema era onde descer, pois com a chuva incessante, mal se enxergava qualquer referência. O motorista acabou nos dando uma dica meio furada e descemos na praça do Jardim Botânico, que fica umas boas quadras de nosso destino. O jeito foi correr e se esconder debaixo das marquises.

Pés molhados, roupa encharcada. Estávamos com tanto frio que nem escolhemos muito o bar onde ficaríamos. Dentre os tantos pegamos o primeiro que tinha uma mesinha vaga e parecia quente. Bacana o bar, chamado Cronico - lembrou bastante o Ossip de Porto Alegre, cheio de pôsteres de cinema e uma decoração bacana. Pena que as pilhas da câmera acabaram e não fizemos uma foto do lugar (mas clicando no link acima dá pra conhecer).

Ali ficamos por não mais que duas horinhas... tomamos uma jarra de chopp Quilmes, comemos uma porção de fritas e decidimos que realmente não era uma grande noite pra encarar uma balada. Pegamos um taxi para o hotel (20 pesos) e deixamos palermo para outro dia.

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