quarta-feira, 11 de junho de 2008

o triste fim de pelotas...

Deixo aqui na íntegra a carta de repúdio do Denis Renó que participou de uma seleção arranjada para professor do curso de cinema e animação da UFPel. É muito triste ler coisas desse tipo - me faz ter certeza de que qualquer possibilidade dessa cidade que tanto gosto crescer, é logo furada pelas panelinhas e elites pseudo-intelectuais. Eu espero que essa manifestação mais que legítima surta algum efeito.

Carta aberta de repúdio à UFPEL – Universidade Federal de Pelotas

Na semana passada, entre os dias 26 e 30 de maio, o Instituto de Artes Visuais da Universidade Federal de Pelotas realizou um concurso para professor assistente destinado ao curso de Cinema e Animação, que segue em seu segundo ano de existência. Porém, o concurso, que durou quatro dias e teve como objetivo o desenvolvimento do departamento e de seu novo curso, contou com diversos fatos obscuros e questionáveis.

Na homologação, um candidato foi aceito com titulação em Antropologia Social, quando o edital definia as áreas de interesse e renegava este campo do conhecimento. Mas este candidato oferecia em contrapartida experiência na área solicitada pelo programa. Contudo, o edital é soberano e se havia a possibilidade de abertura de espaço para candidatos de outras áreas seria necessário constar no mesmo como áreas afins, como ocorre em outros programas. Mas até este momento, nada ainda de muito fora do normal.

Os problemas começaram a surgir a partir do primeiro dia, 27/05, na prova de títulos. Alguns candidatos não levaram documentos originais e a banca, formada exclusivamente por professores do programa, não sabia o que fazer nesta hora. Isso representa uma fragilidade no que diz respeito a concursos, o que é inadmissível, pois um resultado errado pode comprometer o desenvolvimento do curso, financiado neste caso pelo Governo Federal.

No segundo e no terceiro dias, 28 e 29/05, o primeiro grande problema. Diferente de outros concursos, a primeira prova realizada na seqüência da de títulos foi a didática, seguida da entrevista. O estranho é que a entrevista serve para tirar possíveis dúvidas da banca. Ora, se as provas ainda não foram concluídas, não há como existir dúvidas para desempates, o que injustifica esta seqüência.

No quarto e último dia, 30/05, nova surpresa. A prova escrita, realizada sem que os candidatos conhecessem suas notas anteriores, foi realizada no tempo de seis horas, seguida minutos após seu término pela prova de leitura. No final, os professores da banca entregaram os títulos e combinaram que fariam a leitura e a abertura dos envelopes na terça, 03/06, quando seriam enviados os resultados imediatamente para os candidatos de outras cidades, por e-mail. Porém, até hoje estes resultados não foram enviados. Além disso, seria difícil fazer a cerimônia de abertura de envelopes que nunca foram fechados, ao menos com a presença dos candidatos.

Bom, com muita insistência dos candidatos, acabamos descobrindo o resultado da "abertura" dos envelopes por um dos três candidatos de Pelotas que pôde comparecer à cerimônia. Neste momento, começam as maiores controvérsias. O primeiro lugar, Guilherme Carvalho da Rosa, e a segunda colocada, Cíntia Langie Araújo, todos professores substitutos da instituição, foram os vencedores com notas 10 em quase todos os quesitos. Ocorre, contudo, que a prova de títulos tinha peso 4 na avaliação, e a produção científica de ambos era a mais baixa entre todos os candidatos, e de forma gritante. Enquanto ambos possuem quatro publicações em revistas científicas e apenas um ano e meio de docência, outros candidatos apresentavam produções que chegavam a 12 anos de docência e doutorado (enquanto ambos possuem apenas a graduação e o mestrado recém-finalizado) e até 35 publicações sobre o tema e em revistas Qualis Internacional. Tal resultado demonstra que, apesar da subjetividade possível na avaliação das provas escrita e didática (que em momento algum foi definido o objetivo das mesmas), o mesmo merece atenção. A prova de títulos é matemática, clara. Mas o que ocorreu demonstrou ao menos uma deficiência aritmética da banca julgadora. Seria somente isso, se os professores não fossem os substitutos da mesma instituição, o que é lamentável. O curso, como foi dito, é de uma universidade federal, financiado pelo Governo Federal, dos paulistas, cariocas e mineiros, e não somente pelos gaúchos. Além disso, é um curso novo que poderia dar força aos estudos sobre cinema no Brasil, principalmente se obtivesse, a partir de uma contratação justa e limpa, docentes de peso para tal tarefa.

Fica aqui minha lamentação, por ver um curso novo que tinha tudo para obter bons resultados no campo do cinema começar desta forma, com os conhecidos vícios do meio, presentes em algumas instituições brasileiras. Como brasileiro, jornalista, estudioso no campo do audiovisual e documentarista, deixo meu grito de repulsa a esta realidade que ainda assola a academia. Mas como tenho a esperança de que isso ocorra de forma clara nos próximos processos seletivos, peço para que todos estejam atentos. Afinal, o Brasil ainda é "nosso" e fazemos parte do processo de construção do mesmo, que precisa ser digno, ético, claro e justo, para todos.

Denis Porto Renó
Associado SOCINE
Nucleado em Audiovisual – Intercom
Membro-fundador da Red INAV – Rede Ibero-americana de Narrativas Audiovisuais

3 comentários:

Anônimo disse...

meu caro amigo... como alguém que respeita muito tua opinião, te pergunto: por acaso ouviste o outro lado da questão antes de postar esse texto?
te pergunto isso porque, como ex-aluna da ufpel (que berrava, reclamava e questionava tudo e todos, como bem sabes que era nosso costume fazer), que se tornou por algum tempo professora daquela instituição, aprendi uma lição bem simples, mas que me fez cair do cavalo algumas vezes.
acho que devemos olhar e questionar as coisas a partir do contexto em que elas se dão. e te digo: conhecendo um pouco das circunstâncias em que se deu o caso, posso te afirmar que o texto que reproduzes aí em cima merece algumas (várias) ressalvas...

pensa nisso. ;)
beijão!
Ana

pablodelarocha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
pablodelarocha disse...

Ana, não quero de forma alguma ser indelicado. Não pense que não ponderei antes de publicar isso. Já vieram pessoalmente comentar comigo sobre esse texto, e concordo que pode haver aí muita balela e mentira.

mas me parece que pelo simples fato de serem selecionados professores que já eram substitutos do ILA - e pras DUAS vagas! - e com titulação menor (o que, convenhamos não pode ser mentira, pois deve ter sido comprovado em algum momento) a coisa não correu de forma justa. Não querendo desmerecer os selecionados...

já ouvi também que a prova do figura tinha erros de ortografia, entre outras coisas, mas erro por erro, não preciso de muito esforço pra lembrar de algum professor que escrevia e falava completamente errado (exceto que este professor fingia que sabia das coisas e está lá sugando a inteligência dos alunos até hoje)

Lembro bem de alguns fatos semelhantes da época em que a gente estudava nessa instituição, como quando colega do curso de artes ganhou "de presente" uma vaga no curso de design, sem prestar vestibular.

E outra, quanto aos professores que compunham a banca, bom, pelo que sei só um deles realmente faz parte do curso de cinema e, sinceramente, falando por experiencia própria, o nivel é no mínimo duvidoso... e duvidosa também é a forma como foi criado este curso, fato ao qual nunca fui favorável conhecendo a negligência com a qual sempre foi administrado o nosso querido design gráfico.

enfim, coloquei aqui a carta como um exemplo das coisas que acontecem debaixo do nosso nariz diariamente e ninguém toma nenhuma atitude. Se a seleção foi legítima, que ótimo, eu estou errado e a universidade finalmente fez um acerto entre milhares de erros - mas minha amiga, realmente eu não acredito que o outro lado da história tenha explicações suficientes pra me convencer disso.

Se ao publicar essa carta de alguém que nunca vi na vida, ofendi pessoas que estão ligados ao ILA e pessoas a quem considero amigas, eu realmente sinto muito, mas dada a experiência que tenho como brasileiro que lê pelo menos uma notícia ou outra sobre esse tipo de processo em órgãos públicos, eu não vejo uma forma de acreditar no contrário.