terça-feira, 14 de março de 2006

me dêem drogas...

Quem me conheceu há algum tempo sabe e pode confirmar que eu já fui uma pessoa muito criativa. Houve épocas em que eu atualizava o fotolog diariamente com montagens bacanas e experimentais, tocava bateria todos os fins de semana, e estava constantemente melhorando - me atualizando, estudando, praticando, entendendo. Resolvi até fazer um blog pra também tentar exercitar e melhorar minha escrita.
Também já fui uma pessoa divertida. Apesar das piadas referentes ao "smurf ranzinza" na faculdade, sempre tive muito bom humor. Costumava ser dinâmico - no primeiro ano do Design, enquanto todos faziam belos trabalhos no corel, eu recortava rodelas de papel preto e, espirituoso, aceitava numa boa a minha falta de talento, inventando até um conceito para me esconder.

Tinha planos. Trabalhar, aprender a fazer design de verdade, estudar, fazer mestrado. Queria chegar aos pés de alguns colegas que eu admirava. Queria fazer arte, viajar mesmo. Não queria me vender pra cliente pobre e sem cultura, e por isso me propus a sair de Pelotas. O que eu queria, no fim das contas, era imitar David Carson ou Dave McKean, mas pra isso, eu precisava de muitas horas fazendo trabalhos que eu não queria. Precisava ser um empregado. Precisava ter a minha casa e o meu dinheiro garantido todo o mês. Me juntei aos meus amigos do CDM para tentar provar, sem sucesso, para mim e para todos que eu já não era uma enganação, que a "pork art" da faculdade estava com os dias contados. Tentei criar algumas peças autorais. Acho até que algumas delas ficaram decentes.

Mas em algum ponto de minha vida, eu estacionei.

Não quero mais nada disso. Não faço a menor questão de aprender e me tornar um profissional melhor.

Já trabalhei numa agência furreca e medíocre debaixo das arquibancadas do Pelotas pra ter certeza de que isso é o que eu não quero.
Já trabalhei fazendo multimídias para indústrias prósperas e destruidoras do meio-ambiente em Joinville pra não ter dúvida alguma de que isto é o que eu não quero.
Já trabalhei diagramando e criando anúncios ridículos para uma revista de fofoca igualmente ridícula pra conhecer pessoas com as quais, hoje sei, jamais devo me meter.
Já fiz arte-final em uma das maiores empresas de publicidade do Estado para estar ciente de que esta vida não é pra mim e que a publicidade é o ramo mais imbecil que eu poderia ter escolhido.
Já fiz trocentos sites de internet em uma empresa horrorosa que, ironicamente, proibe navegar na internet. Prazos de um dia seguindo padrões horrorosos e limitadores para clientes de fundo de quintal. Ao analisar no meu portfolio, constato com certeza mais um serviço não quero.

Porque, deveria eu então, buscar o meu melhoramento? Pela primeira vez em minha vida, não sei pra onde ir. Tudo o que eu tinha planejado foi por água abaixo. Todas essas experiências não me tornaram melhor em NADA. O mau humor foi a única qualidade que adquiri, e posso dizer com testemunhas oculares, que nisto eu estou ficando craque.
Fazer mestrado para seguir neste ramo de merda pra mim se tornou uma perda de tempo. Fazer trabalhos artísticos e autorais se tornou um sonho distante. Não tenho mais tempo e nem paciência. Tudo hoje pra mim tem um senso de urgência, eu não começo nada que não traga melhoras a curto prazo, tudo está correndo rápido demais. Eu me canso rápido de tudo. Aliás, eu ando sempre com a maldita tríade do cansaço, sono e dor. Eu olho no espelho e vejo meu pai. Arte hoje pra mim é um incompreensível e distante papo-cabeça numa mesa de boteco que eu faço questão de interromper antes que eu caia no sono.

Satisfação pessoal e trabalho são os opostos que não se atraem.

Hoje, eu me sinto a maior frustração da face da terra.

6 comentários:

Anônimo disse...

Meu velho, parece ser a frustracao o estigma da minha geracao. Sofro do mesmo mal que tu, e sei de outros tantos na mesma situacao.
Me formei em algo que nao apenas nao gosto, mas que tenho absoluta ojeriza (ah! famigerado mundo juridico). E, ja nao sendo nenhum guri, nao me vejo perdendo tempo em alguma outra faculdade. Dai a realidade de ter de prestar exame para todo concurso que se apresenta, e me tornar um burocrata a servico do Estado. Na verdade pretendia, de bom grado, ingressar nas forcas policiais, mas como o teste fisico exigido atualmente é deveras puxado, e fui considerado "inapto".
Disso tudo, acabo sofrendo de um mau humor cronico e de um pessimismo que me consome. Nao acredito mais em nada nem em ninguem.
Pro inferno com tudo.

Leonardo Furtado disse...

em breve vais ter que aguentar uma filial do c.d.m. em poa :)
se liga!

Ana Margarites disse...

Cara, sei lá. Me identifico muito com a tuas inquietações e frustrações, mas sou muito da filosofia do "já que tamo, vamo". Já que tô nesse mundo, já que tive a oportunidade de nascer, crescer e reproduzir, let´s go. Vamos aprovweitar esse mundo, que é maravilhoso. The ground is fertile, the grass is green. So many things to be seen. So many bands to be heard.

Sou otimista demais. O tempo me ensinou o valor do meu trabalho. O tempo me ensinou o valor do improviso, da adaptação, da criatividade, da independência, do amor, da amizade sincera, da boa vontade, do entendimento.

É preciso entender que o mundo é bem mais simples do que é, e que muitas coisas só dependem da nossa boa vontade. Tudo que tu quiser, de fato, tu vais conseguir. Já disse aqui antes: somos inteligentes, jovens, saudáveis. Contamos com o apoio das nossas famílias, contamos com muitos amigos.

É só decidir exatamente o que é aquilo que a gente quer, e daí correr atrás.

Não é simples? :)

Anônimo disse...

não sei se adianta te dizer que estamos no mesmo barco.. é consolo? não sei. Mas o fato é que sinto o mesmo. E talvez por ainda não desacreditar em mim mesma, prefiro pôr a culpa na falta de sorte. É a quarta vez que to recomeçando na profissão. É a segunda vez que volto pra casa o que é foda pra quem tinha uma vidinha "mais ou menos" numa cidade bizarra. Pura falta de sorte quando penso que vou me firmar no mercado de trabalho acontece alguma coisa do além tipo ter que desistir de tudo por causa de 1 pessoa infernal. aí voltar pra casa, pro mesmo filme que já ví, pra entrar em deprê de novo com as mesmas situações família, irmã adolescente q adora tacar na cara q tu não tem dinheiro e tal, que tu não devia tá alí com a idade que tu tá e por aí vai.. O trabalho quando aparece é fria, sempre dá mais trab do q representava quando não dá calote. E mãe insistindo que trabalhar por conta é a melhor coisa do mundo. Tu não tem mais horário, nem remuneração certa nem garantia nenhuma..
E dá vontade de desistir de tudo e ir cuidar do que já existe e dá um pouco de dinheiro (papelaria). Lápis de cor no balcão ainda sei vender bem.. o negócio é não ter expectativas e infelizmente fomos muito alimentados com isso. A vida é assim, o mercado de trabalho é assim mas a gente só enxergou o lado bom de seguir a vocação... Quando temos chance de segui-la. Espero (olha as expectativas de novo), ter novamente chance e não ser atropelada no meio do caminho por uma coisa que esteja fora do meu controle.
não sei se ajuda, mas qdo a gente fazia faculdade eu queria fazer os trabalhos tão legais quanto os teus da porc art, hehe ; )

Anônimo disse...

crescer é foda. e o pior é que eu já sabia disso, aos 10 anos, quando disse pra minha mãe, aos prantos: "não quero ser uma adulta chata e triste".
taí. vai ver por isso, insisto em ser otimista...
mas quer saber mesmo, na real, o que vale, caríssimo? ser LÚCIDO. porque só assim se consegue ser crítico, mas sensível. encarar os medos - e as merdas - da vida, mas ainda assim - espero - poder identificar e saborear as boas (mesmo quando raras) coisas da vida...
tô com saudades da family.

Anônimo disse...

é assim, eu acabei me conformando ,inconformadamente, com essa rotina de maldita de artes limitadas e regradas.

Mal tenho tesão de escrever novamente no meu abandonado blog. O qual eu também não sei bem pra que serviu, mas serviu.

Maldito somos nós "criadores".

abraço cara e se te oferecem drogas, lembre do que Fredy 04 diz: "...guarde um pouco pra miiimmm...".