
Em certo momento do show, Ben Harper fala "Onde vocês ouvem Ben Harper e os Inocent Criminals? Como vocês nos conheceram? Foi na TV?" O publico mal se manifesta. "Radio?" Permanece o silêncio. "Ok, então quantos de vocês conheceram Ben Harper através de um amigo?" A platéia nesse instante grita.
Não, isso não aconteceu no show de ontem, mas sim lá pelo inicio dessa década, quando o cara ainda era uma figura underground. Hoje, Harper é um astro da "música pop", graças a algum modismo de luau surfista. Nisso, a performance de ontem ficou meio comprometida graças a um público cheio de chapinha, luzes, bíceps avantajados e pouca sensibilidade, que cantava com louvor só o que bombou na MTV.
Talvez eu esteja sendo um pé no saco, mas é triste ver pessoas que gastaram entre 100 e 150 reais pra menosprezar 80% do esforço de seis puta músicos. Eu tentei curtir ao máximo cada momento do show, apesar de estar rodeado de gente que num instante vibrava cantando a radiofônica Diamonds on the inside e no minuto seguinte enquanto rolava a já antiga e tocante I shall not walk alone, dizia "tá, agora podemos conversar".
De qualquer forma, o espetáculo que Ben, o baixista Juan Nelson (o próprio Tim Maia, como alguns gritaram), o percussionista Leon e o resto dos criminosos inocentes foi sensacional. A começar pela música de abertura, Jah Work é um hino pra quem acompanha desde tempos o estilo da banda. Os arranjos com essa nova formação estão ótimos em praticamente todas as músicas.
De todo o setlist, destaco logo no incício, a funkeada Brown eyed Blues. Nelson, como sempre, fez questão de avacalhar com qualquer baixista no recinto - apesar de não ter feito o tradicional solo cantado. Tocaram o hit do último álbum Fight Outta you - nessa, Ben Harper esqueceu a letra e gerou um momento de descontração entre os músicos, que tentavam passar uma colinha pro cantor. O poder de uma banda em completa sintonia se sente nesses momentos de jam e improvisação pura. Logo veio a Whipping Boy, tirada da fase bem inicial - aqui, sobrou um power trio de slide guitar, baixo e batera com um solo perfeito e timing de cair o queixo. Forgiven, uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos rolou perfeita. Burn One Down foi foda, Leon veio pra frente do palco com seu Djembe pendurado e deu um show - pulou, agitou e levou a banda consigo, contagiando toda a galera. Um puta solo de percussão. Vários acenderam um nesse som.
No primeiro bis, voltou o cantor e só com o seu violão tentou, mas infelizmente não conseguiu muito respeito do brasileiro. Quase ninguém acendeu um isqueiro, e poucos ficaram em silencio. A banda voltou para uma divertida versão bossa nova de Susie Blue e a maravilhosa Amen Omen, com guitarras distorcidas, muitos solos e improvisação. No segundo bis, Better Way matou a pau e, encerrou-se o show com a fraquinha Boa sorte / Good luck, mas que ficou legal com toda a galera cantando junto onde estaria a Vanessa.
Eu assisti ao show colado na grade e no fim, Ben desceu do palco pra cumprimentar as pessoas e eu ainda consegui um aperto de mão e uma palheta personalizada. Gritei "backstage pass" mas ele fez que não ouviu. Raspou ainda nos meus dedos uma baqueta do Leon, mas aí seria bom demais pra ser verdade.
Sempre gostei e comparei o "crooner", em alguns aspectos, com o nosso Chico Buarque. Ben tem o lado político, o lado religioso, o lado romântico e o lado boêmio. É comum a gente pegar letras de artistas americanos e numa tradução, perceber que é uma farofada sem tamanho. Já o caso de Harper é bem diferente. Ele articula o inglês de uma forma tão marcante quanto o Chico com o português. E a performance é completamente afetada por isso. Transparece na simplicidade do artista como ele se deixa levar pela emoção do que escreve. Por vezes, parece um ativista à Malcom X cantando pedradas como Black Rain, parece um pastor gospel cantando e gritando em Better Way, lembra Marvin Gaye no seu romantismo (apesar de não ter tocado Sexual Healing) e lembra Bob Marley ao tocar With my own two hands ou cantar a letra de Burn one down.
Ponto baixo do show: público e a falta das faixas Glory & Consequence, Sexual Healing e Please Bleed.
Setlist:
1. Jah Work
2. Brown Eyed Blues
3. Don't Take That Attitude To Your Grave
4. Fight Outta You
5. In The Colors
6. Diamonds On The Inside
7. Whipping Boy
8. Heart Of Matters
9. Morning Yearning
10. Forgiven
11. Use Me
12. Burn One Down
13. Black Rain
14. With My Own Two Hands
Encore I:
15. Power Of The Gospel
16. I Shall Not Walk Alone
17. Waiting On An Angel
18. Suzie Blue
19. Amen Omen
Encore II:
20. Better Way
21. Boa Sorte
6 comentários:
Foi um baita show mesmo!!!
Puta resenha, cara...Tu tá escrevendo bem pra caralho, hein? ;-)
Concordo com todos os teus pontos, a não ser onde dizes que a MTV é a responsável pelo popularismo exacerbado do cara. Na real acho que foi a a Itapema FM que massificou/destruíu várias musicas dele, entre outros...
Um pena a galera não saber apreciar os momentos voz e violão dos artistas em shows desse tipo. Na real, essa "turma" tava lá pra curtir FESTA e não um SHOWZAÇO!!!
Aquele abraço
Eu fui no outro show dele, e tava muito, muito, muito bom.
Realmente foi uma resenha incrível.
E Ben Harper é o cara, eu nao tenho dúvida, acho que tu conseguiu colocar em palavras tudo o que eu admiro no cara.
Pena que não consegui ir. Não acredito que os caras tocaram "I shall not walk alone"! Coloquei essa na formatura, lembra? heh
Ah, cara, só hoje vi que tu divulgou minha exposição no teu blog, podes crer! Valeu a força!
Abraço!
melhor resenha. :)
Oi mano!!!
Faz tempo que não passas por aqui,não?Chego a pensar que depois do show do Ben Harper não teve mais nada que valesse a pena escrever e postar!
De qualquer forma,aí vai o endereço do meu blog recém inaugurado delarocha78@blogspot.com.Passa lá!bjos
tá. eu achei esse blog pelo da dani e resolvi ver. e quando eu vejo essa resenha sobre o ben harper! gahh
não pude ir nesse show, mas fui no de 2007. lindo demais. o público foi esse estilo, sabe. ele pedia silêncio e todo mundo gritava.
mas rolou uma energia muito muito positiva e uma vibração ótima que eu nunca vou esquecer.
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