De uns 3 ou 4 anos pra cá, aprendi e criei gosto por cozinhar. Lentamente perdi o medo de queimar, estragar e errar na cozinha. Quando saí de casa, não fazia nem arroz, mas isso tinha que mudar. Hoje sei pelo menos por onde começar - é muito bom descobrir aos poucos alguns segredos, truques e manhas. Põe vinagre na caneca antes de ferver o ovo, pra não marcar. Unta a forma antes de pôr a massa. Um fio de mostarda pra dar mais sabor ao molho.
Melhor coisa que tem pra mim, é ver a geladeira cheia e ir tirando e inventando coisas pra preparar. Tudo acompanhado de uma boa cerveja, tornando o processo num agradável ritual.
Dia desses, fomos fazer uma comida das mais caseiras. Batata e cenoura com guisado, arroz e feijão. Coisa boa é aquele ranguinho com gosto de casa. Confortante. Me lembrou a comida de minha mãe... lembrou também a comida da dona Marina, que trabalhou como empregada na casa de meus pais durante praticamente toda a minha infância e adolescência. Aquela pessoa meio negra de olhos claros, querida e com toda a sua humanidade e humildade é certamente, junto de minha família, uma grande responsável por eu ser o que sou hoje.
Pensando nela, comecei a me dar conta de como deve ser difícil a vida nesse tipo de emprego. Escolher temperos, cortar os legumes, bolar um cardápio, cozinhar... pra mim é um prazer. Mas daí a virar obrigação, deve ser um saco - sem contar o "limpar a casa" e "ficar de olho nas crianças até a patroa chegar". TODOS os dias.
A Marina já se foi fazem alguns bons anos, bem depois de já estar aposentada. Ficamos sabendo da morte dela muito depois do enterro. Ela, junto de alguns bons professores que tive, tem um lugar marcado nas minhas boas lembranças de infância e na formação do meu caráter.
É bom lembrar daqueles que fizeram parte de minha vida. Lembrar daqueles que fazem o que ninguém quer fazer. Melhor ainda é encontrar essas lembranças e histórias em momentos inesperados e atos aleatórios, como na última receita daquele livro velho com anotações de culinária.
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5 comentários:
É bem legal mesmo pensar nessas pessoas queridas que fizeram parte da nossa infância.
Me emocionei...
meu caro! faz um teeempo que não passo por aqui. e da última vez foi rápido, pra matar a saudade, sem tempo de comentar. não comentei, por exemplo, a fofuuuura da pequena Feli se divertindo ao "comer" o chimarrão. E que susto ver as fotos dessa pequena notável cada vez maior...
A minha fez 5 semana passada. O tempo passa, e se deixarmos nos engole. Fazer o quê?
Viver!
E sobre isso venho falar depois de ler o último post. Que lindo. Enchi os olhos d'água, arrepiei-me e emocionei-me contigo e com a Marina. Eu, que sempre considerei os ensinamentos e as referências das pessoas na nossa vida tão mais importantes que o que vêm escrito em livros, tento mostrar isso pra minha filha todos os dias... E me preocupo MUITO com as referências que ela terá, quando for uma adulta já não tão jovem como nós. Com que nostalgia retomará os dias de hoje?
É lindo, isso. Obrigada por compartilhar, e lembrar. :)
Beijo com saudades, pros três!
p.s. só pro caso de não te dares conta, o ser anônimo aí sou eu. ;)
anaband
Nossa, eu sou assim, faz um tempo também que comecei a cozinhar, mas nunca tive muito medo, mas o que eu mais gosto é de inventar, misturar temperos, ir pegando tudo que tem no armário. Eu não sou nem um pouco modesta em dizer que cozinho muito bem e adoro convidar os amigos pra jantinhas em casa, adoro cozinhar pros outros.
Aqui em casa sempre nos viramos, mãe trabalhando fora, comidinha pronta em cima da hora.
Na verdade eu gostaria muito de trabalhar com isso. E tudo que aprendi foi vendo minha mãe correr.
x)
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