Faz um bom tempo que não coloco aqui nenhuma crítica de cinema, até porque de uns tempos pra cá não tenho tido tempo de ver lá grandes coisas.
Cinema é uma das minhas formas de arte favoritas. Adoro entrar na sala escura e, como na caverna do Platão, me deixar levar pelas ilusões e entrar na história. Gosto de filmes inteligentes, mas também gosto, como costumo dizer, dos filmes pra "deixar o cérebro em casa e me divertir". Melhor ainda é quando o filme junta a inteligência e diversão num só, sem ofender.
E esse é o caso do tão falado Batman: The dark knight. Li à exaustão todas as críticas e reportagens que vi. Estava com uma expectativa lá em cima, e sim, a obra merece todos os elogios que recebeu.
Impossível falar desse filme sem comentar sobre a atuação de Heath Ledger. Talvez o oscar póstumo seja um exagero, mas o cara é dono de uma composição de personagem de uma originalidade rara em Hollywood - comparando a Johnny Depp e seu originalíssimo pirata do caribe. Seus atos e seus trejeitos dão nojo e assustam. Mas cativam. Logo no início do filme, com a ajuda de um simples lápis, já fica clara a dualidade entre a violência e o humor mais negro possível. Eu ri de nervoso. O roteiro ajudou, é claro, mas nada adianta uma boa cena e um bom diálogo, se o ator não faz jus.
Criou-se aqui um modelo de vilão para os próximos tempos - à luz de terroristas que dão a sua vida por um ideal, ou pela falta de um. Um vilão adaptado aos tempos em que roupas coloridas e piadinhas estilo "bang no revólver" não funcionam mais. Nada de gases do riso ou botões de choque num aperto de mãos. O Coringa é um vilão que representa um perigo real. O uso do celular, da tv e do aparato do estado, como forma de subversão em nome da anarquia é algo que adoro discutir, o que me deu extrema satisfação ao ver tão bem empregado na película - claro que com propósitos escusos. As questões sociais e do ser humano sempre corruptível estão lá, fora alguns eventuais esboços de esperança que obviamente não podiam faltar - afinal a censura é 12 anos.
Fala-se tanto do Coringa, que os personagens principais acabam ficando secundários. Por não ser mais um filme de origem, a trama aqui é bem menos centrada no herói de Cristian Bale. Nele não existe mais lamentações pela perda, mas sim dúvidas e crises de consciencia. Aaron Eckhart faz um trabalho igualmente excepcional - em suas duas formas, diga-se de passagem. Não preciso nem comentar quanto à qualidade da atuação dos coadjuvantes de luxo: Michael Caine, Morgan Freeman e Gary Oldman são um time de peso e mereciam um filme inteiro só pra eles.
A espetacular trilha sonora, faz roer unhas. O tema musical sombrio é de uma perfeição, apesar de não tão memorável quanto a já clássica faixa do Danny Elfman para os batmans de Tim Burton. Em cada cena que o Coringa está presente, a música em um ruído constante torna a tensão quase insuportável - justamente pela imprevisibilidade tanto do personagem quanto do filme inteiro.
Imprevisibilidade esta que dá credibilidade e desliga o filme de tudo o que se já viu em termos de histórias em quadrinhos de heróis. Não dá pra saber quem vai chegar vivo ao final. As cenas de ação seguem esta mesma linha de raciocínio. São raríssimas as inserções de computação gráfica, e quem acompanhou reportagens sobre as filmagens sabe que aquele caminhão virou de verdade e que o hospital implodiu de verdade. Cenas captadas de uma vez só, sem possibilidade de erros, num plano sequência de habilidade técnica impressionante, com o Coringa vestido de enfermeira e tudo. E isso com uma fotografia e um visual de caír o queixo.
Eu já admirava profundamente o trabalho do diretor Cristopher Nolan. Desde Amnésia, acompanho tudo o que ele faz e, ao lado do Aronofsky, é um dos meus diretores favoritos dessa geração. O roteiro, também dele, não deixa pontas soltas, e tem referências até demais - tem muito da Piada Mortal do Alan Moore, tem muito do Batman do Frank Miller.
São duas horas e meia de projeção com poucas falhas (a história do sonar pelo celular é a única que não me passou pela garganta), posso dizer sem vergonha de concordar com toda a imprensa mainstream que, sim, saí do cinema com um sorriso de orelha a orelha.
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4 comentários:
Quero ver! Quero ver!
Vou ver hoje! Basil é manjericão, muito bom.
Eu nunca fui fã de filmes de super-herói, prefiro o Übermensch do velho Nietzsche, meu pai que sempre foi apaixonado pelo legado dos personagens de gibi e tal.
Fui levada ao cinema, também, pelas muitas resenhas que li; confesso que esperava mais das cenas de ação, o tal divertimento, e fui surpreendida por pensamentos que não esperava encontrar no filme.
Sobre a interpretação do Ledger, é algo gritante, sem duvidas o roteiro ajudou muito, "o que foi aquilo?", a cena inicial do lápis é uma das melhores apresentações de um personagem que já assisti, mostrou o que todos queríamos: o coringa cômico, mas com a crueldade viva.
Outro ponto é que eu gosto muito dos filmes do Bale, ele é um ótimo ator, mas vira coadjuvante de todos no Batman e, dessa vez com a atuação do Coringa, ele como personagem foi deixado de lado.
O Coringa, o vilão real e a teoria do caos, são esses os pensamentos que ganharam pontos comigo no filme, mas não deixo de me divertir com as cores brilhantes do Burton e a atuação, que é sempre fantástica, do meu querido Nicholson, na verdade o filme mostra um paralelo muito interessante do cinema (1989 - 2008).
Enfim, o Batman virou filme pra gente grande.
Gostei, mas não achei o Coringa isso tudo não.
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