"cineminha"

Ontem fui assistir "Cão sem Dono", novo filme do Beto Brant baseado no livro do Daniel Galera. O que dizer... assisti ao filme sob uma perspectiva diferente do cinéfilo comum, já que o ator principal, Júlio Andrade, foi meu vizinho de porta por um bom tempo, e esteve presente em muitos momentos sublimes da minha vida, entre eles o nascimento da Felicia.

Não farei aqui uma crítica à atuação dele, mas deixo claro como é difícil assistir a um filme de um companheiro, como é difícil entrar na história sem se prender a uma análise de todas as pequenas coisas. Me ponho na pele dele e imagino como é difícil também, assistir a si mesmo na tela do cinema. Só posso dizer que entendo porque quando ele voltou a morar no Edificio Maria, voltou tão estranho e introspectivo. Voltou como Ciro, o próprio personagem.

Mas não é só por isso que o filme tem um gosto especial. Ele foi filmado em Porto Alegre e todo mundo nele respira, fala e exala "gauchês". Fiquei experimentando como se sentem os novaiorquinos ao assistirem os filmes hollywoodianos que passam na big apple, e minha nossa, que sensação bem estranha. Tive a impressão de que nenhum ator estava realmente atuando, tamanha a naturalidade dos diálogos, e tamanha a minha familiaridade com as gírias, ruas e expressões locais.

É difícil dizer que o filme é sensacional, porque antecipadamente não consegui deixar de torcer pelo meu amigo, para que fosse um sucesso de público e crítica, e pra que fosse um filme realmente bom. Nessa torcida, acho que criei expectativas demais. Mas o filme é muito bom, sim.

Talvez seja um exagero dizer, mas me parece um retrato de uma geração apática e sem rumo. Não uma geração perdida em drogas e auto-destruição. Mas uma geração que parece não ter sentido. Faculdades e diplomas que não significam mais nada. Uma geração doente. A procura cada vez mais frustrante pela independência financeira. O vazio, a negação, a literal "busca interna", a falta de respostas, a falta de perspectivas, a falta de "eu te amo"s.

O grande problema de não ter coerência... de começar algo e nunca realmente termin