Posso colocar os meus fones de ouvido? Posso não fazer parte da discussão?
Foda é que não importa o quão alto é o som, nem o quão pesado... eu continuo ouvindo a minha barriga ficando maior. Eu a ouço mais flácida a cada dia. Pêlos crescendo. Eu ouço a gravidade agindo. Você sabia que a orelha e o nariz são as únicas partes do corpo que não param de crescer até o fim da vida? Dizem... mas e as unhas? E o saco? O saco cresce também, pô... o saco enche, infla.
Já fazem o que... dez anos? De trabalho em trabalho... você consegue ouvir meus cabelos caíndo? Crescendo mais brancos a cada momento? Consegue ouvir a minha filha aprendendo a caminhar? Eu não.
Na verdade, alguém se importa?
"No cyberespaço ninguém pode te ouvir gritar"
Um dia é igual a todos, só que a escova de dente está cada vez mais desgastada... arregaçada. As gengivas sangram mas ao que parece os dentes seguem sujos.
Já fazem o que... 60 anos? "Eu não quero ser mais um escravo" já dizia a trilha sonora de um sonho agora moribundo.
E quem precisa de férias, certo? Quando me formei, isso foi... 1970? Não sei mais. Alguém aí lembra? Nossa, que dor de cabeça.
Posso desligar a TV? Posso fechar os olhos diante do ponto cego no espaço? Desse jeito eu consigo seguir por mais... sei lá, 30 anos? Quando chegar lá, posso finalmente descansar em paz? Ou vai ter outro emprego sem férias a me esperar? Tem carteira assinada? Minha pretensão salsarial... hummm... o quanto você puder dar! Tudo no meu grande, imenso e cada vez mais gordo cu! Foi forte? Dramático? O que posso dizer, se afinal, já fazem o que? 30 anos, certo? 40 anos que estão socando tudo ali...
Posso comprar um livro, pra poder não lê-lo?
Posso decepcionar você? Posso largar tudo e começar do zero? Digo, voltar ao jardim? Isso foi o que, em 2006?
Nossa faz tempo...
Posso me fingir de coitado? Posso seguir abaixo das suas expectativas? É tão confortável aqui. Já tenho minha mesa, teclado, mouse. Liquid Cristal Display! Uau!
Afinal, todos levam no cu todos os dias e reclamam muito menos, certo? Devo calar minha boca e seguir ganhando dinheiro pra você?
Ah, você ainda está aqui? Acabei de ver meu talento passar do lado de fora do meu aquário. E isso foi o que? 20 anos, já? Último dia amanhã?
Moço, posso ir pra casa ver minha familia amada? Minha linda mulher e minha maravilhosa filha...
Ela fez o que... 30 anos ontem? Quer ver a foto da festinha dela? Tinha docinhos e canudinhos recheados com guisado. Eu derramei a minha primeira lágrima depois de o que... 60 anos? Nossa, como fui ficar tão sensível?
Desculpe, desviei o assunto, certo? Por um momento parei de trabalhar... ok pode colocar os arreios.
Se vir minha mulher e filha hoje, pode mandar um recado a elas? Diga-lhes que as amo.
Obrigado por tudo... de coração.
segunda-feira, 27 de novembro de 2006
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3 comentários:
ai, querido...
li isso depois de uma tarde em que, sei lá porque, me peguei pensando em qual foi a última vez em que me senti genuinamente feliz... em que dei o último sorriso sincero, daqueles do fundo d'alma, sem qualquer peso, sem qualquer culpa. sem qualquer... razão.
doeu, viu? doeu não lembrar, e doeu constatar o que eu já sabia, mas não sentia. que dói em todo mundo.
pior ainda ver quem a gente gosta muito passar por isso. impotência...
dói, né? será que é pra sempre?
ainda torço pra que não. ainda.
Talvez o melhor fosse eu não escrever, mas queria dizer que não tenho nada a dizer... Só pra dizer que te li.
E que queria te dar um mundo. Pra ti, pra Leandra e pra Dani. Pelo menos pra vocês. Mas não dá.
Pelo menos fica aí com minhas pretenções impossíveis. É o que eu tenho a oferecer. Amor distante em pretenções impossíveis...
Um abraço, meu irmão.
BAITA TEXTO!!!
AQUELE ABRAÇO
diegodelarocha
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