(o texto é grande e sei que a maioria dos que passam por aqui não se interessam pelo assunto... mas gostaria muito q pelo menos um de vcs terminasse d ler tudo - abraços)
Se existe uma banda que eu não me imagino deixando de ouvir nem mesmo aos 60 anos, essa banda é Sepultura. Comecei a escutá-los desde muito pequeno, conhecendo através dos LP’s do meu irmão. Não tenho idéia de quantos anos tinha, mas lembro de sentir mais medo da introdução do primeiro disco, Bestial Devastation do que do clipe da Thriller. (o mais engraçado é que eu tentava reproduzir aquela voz, mas erroneamente eu sempre dizia “celestial devastation”...).
Tinha o Beneath the Remains e o Arise quase decorados, mas foi com o Chaos A.D. que minha vida mudou. Com esse disco, os caras simplesmente revolucionaram e politizaram o metal. As raízes de praticamente tudo o que ouço de mais pesado hoje estão lá, sem contar com a influência da percursão que hoje qualquer bandinha new metal imita. Depois disso veio o Roots, - um pouco exagerado pro meu gosto, mas ainda assim com algumas ótimas faixas e uma produção musical matadora - e o resto da história, todo mundo já conhece. Até mesmo quem não é ligado no barulho.
O que impressiona é perceber que já fazem dez anos desde que o Max Cavalera deixou a banda.
De lá pra cá, muita injustiça rolou. Com o “novo” vocal, Derek Green, os caras mudaram o direcionamento. Enquanto o Max seguiu as experimentações do Roots (porém com letras fáceis e grudentas à “jumpthafuckup”), gravando o primeiro álbum do Soulfly no mesmo estúdio, com mesmo equipamento e mesmo produtor, o Sepultura adotou uma postura mais hardcore, porém com uma sonoridade mais limpa - influência, creio eu, das aulas de violão clássico do guitarrista Andreas Kisser. Against, o primeiro da fase Green, é um disco excelente, mas ninguém entendeu a proposta. Enquanto os americanos esperavam mais hip hop, batucadas e new metal, o que se apresentou foram cítaras, vocais limpos, atmosferas orientais, mantras e letras politizadas de uma maneira quase espiritual e erudita – leia-se “difíceis para o mercado”. A gravadora Roadrunner, sentindo o distanciamento do metal pop da época bancou um péssimo clipe e só. Destaque para Old Earth, Unconcious e Common Bonds. Ouvir o álbum nos headphones é um deleite para os detalhistas.
O esforço seguinte, Nation, foi ainda mais apagado, apesar de ser uma obra prima superior ao antecessor, sem nenhum clipe e com pouqíssimo investimento de divulgação, apesar do mais belo trabalho gráfico de capa de todos os álbuns do grupo. A proposta, eu concordo, era uma viagem: um disco conceitual girando em torno de uma nação utópica – a Sepulnation. Apesar da pretensão, a sonoridade é muito rebuscada, com alguns toques eletrônicos, muitos convidados – entre eles Jello Biafra do Dead Kennedys, compondo uma das letras mais bacanas e diretas do disco – e muitas novas influências apresentando um som único e inconfundível. Entre citações de Ghandi e Madre Teresa, o disco naufragou nas vendas. É triste concluir que nem mesmo a própria banda valorizou o excelente trabalho, executando muito poucas faixas do álbum nas turnês da época e hoje em dia tocando apenas a fraquinha Sepulnation, enquanto existem ali dezenas de músicas memoráveis, como One Man Army, Saga e a maravilhosa Who must die, com guitarras que lembram U2 e vocais no melhor estilo Mike Patton.
Mudando de gravadora depois de muita pendenga judiciária, lançaram um EP com a releitura de 7 covers bastante inusitados. Intitulado Revolusongs e lançado originalmente só no Brasil (e como bonus tracks do álbum seguinte lá fora), o sepultura causou muita polêmica na “comunidade metaleira” por regravar artistas como Devo e Massive Attack com a excelente faixa Angel. Muitos dizem que neste ponto a banda se vendeu – comentários comuns e típicos de um público limitado que desconhece o significado de evolução e amadurecimento – apesar de a banda negar propostas de contrato de grandes gravadoras para recolher-se a mercados menores, morar no Brasil e tocar única e simplesmente aquilo que gosta, seja agradando, seja repelindo os fãs.
No mesmo ano, lançaram o Roorback. De nome estranho cujo significado nem mesmo os americanos conhecem e mais uma vez soando pretensioso, o sepultura entregou seu álbum mais político e direto desde Chaos A.D. Críticas sem metáforas ou figuras de linguagem ao governo Bush, trashcore cru e direto. Dessa vez sem contar com praticamente nenhum convidado, o disco recebeu alguns elogios, mas nada que fizesse a banda voltar ao topo. Pessoalmente este é um dos discos que menos ouço dessa nova fase, pelo minimalismo exagerado e pela mesmice nos riffs do Andreas. Assinaram com a SPV da Alemanha e uns bons meses depois do disco lançado, colocaram na roda um clipe sem muita firula, a rolar pela MTV. “Erraram” ao produzir um clipe com cenas violentas demais para o publico imbecil da mtv americana, que o censurou e tocou exclusivamente durante as madrugadas Conseguiram algumas turnês pequenas pela Europa e alguns países da África e Ásia.
Enquanto isso, Max continuava sem nada de novo, com discos mais pra world music que para o metal e com cara de produzido às pressas. Só tinha certo destaque graças ao poder da gravadora.
Porém, parece que pras duas bandas, esse 2006 é o ano da virada. O Soulfly mandou bem e lançou sem dúvida alguma seu melhor disco desde que começou – o aclamado Dark Ages. Já o Sepultura traz um excelente disco conceitual livremente inspirado na Divina Comédia, intitulado Dante XXI. Novamente, a banda arrisca-se em experimentações, dessa vez utilizando instrumentos de sopro e cellos pra criar o clima, dividindo o álbum em Inferno, Purgatório e Paraíso, fazendo relações entre os personagens e situações do livro com os dias de hoje. O resultado é excelente – parece uma trilha sonora de uma noite de RPG - e finalmente o disco já nasce com vários clássicos para o público “metól”. Foi lançado em março lá fora e deve saír por aqui agora em junho, apesar de ter vazado na net em dezembro do ano passado.
Este trabalho não é nem inferior nem superior a nada que o sepultura tenha feito. É simplesmente diferente, como sempre. Já arrancou excelentes críticas da mídia especializada na Europa e Estados Unidos, finalmente ganhando um clipe digno de nota do primeiro single, a ótima Convicted in Life. Até aos que não gostam do estilo, vale muito a pena dar uma procurada e escutar as excelentes Ostia, musica do purgatório que tem um belíssimo solo de violoncelo e Nuclear Seven, que faz uma relação muito bacana entre os 7 pecados capitais e 7 países mandando no mundo. As letras, como sempre são muito inteligentes e Derek canta melhor do que nunca. O trabalho gráfico, ainda não pude ver impresso, mas as imagens, num total de dez painéis pintados pelo artista plástico Stephan Doitschinoff (http://www.stephandoit.com.br), rolando na internet são de uma beleza surrealista incomparável. Andreas volta a fazer solos melódicos e o Igor deixa a maromba de lado pra mostrar que ainda é um grande e influente baterista.
Para divulgar o lançamento, a banda ainda esteve excursionando com o In Flames pela Europa, porém sem o único membro original remanescente. Entre rumores e fofocas, Igor Cavalera desmentiu sua saída da banda, mas deixou de excursionar com os colegas devido ao nascimento de seu filho. Ironicamente, o batera substituto foi o ótimo Roy Mayorga, primeiro baterista do Soulfly. Dizem pelos fóruns no site oficial, que Igor não fez falta alguma.
Infelizmente alguns veículos da imprensa já começam a falar de uma reunião dos irmãos Cavalera, ou uma reunião do velho sepultura, tentando reviver um passado glorioso de um metal que já não existe mais, evitando as novas sonoridades propostas. O Kiss voltou e foi uma merda. Assim como o Black Sabbath. De qualquer maneira, Sharon Osbourne - a mulher do Ozzy - ofereceu milhões para que essa reunião acontecesse no Ozzfest. Infelizmente para uns, felizmente para outros, a banda manteve sua dignidade e negou a proposta.
Pra mim, é triste ver música de qualidade deixada de lado, ignorada. Óbvio que compreendo perfeitamente aqueles que não gostam do “novo” Sepultura – pelo menos os que ouviram e não gostaram. Mas aos que já de cara com a saída do Max nem sequer experimentaram ou tentaram entender a proposta da banda – a grande maioria – aqueles que se dizem os “verdadeiros metaleiros”... com esses eu prefiro nem argumentar.
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4 comentários:
Alô Pablito,
Cá estou, no teu blog, lendo até o final um texto de nosso interesse comum e que, de minha parte, não precisarias pedir para lê-lo até o final. Primeiro porque aprecio teus textos e segundo porque é sobre o nosso querido Sepultura.
Ao mesmo tempo, entro no site do Sepultura e vejo a notícia da saída definitiva do Iggor da banda, que como já frisaste bem, se revelou na vanguarda do metal com o baita Chaos A.D.
Bom, o que dizer. É uma lástima, pois na minha opinião, era ele o mais criativo, inovador e iconoclasta da banda. É o fim de uma era! Por outro lado, me parece que com essa ruptura, vai sair uma outra ótima banda. É esperar...
Voltando ao teu texto, me fizeste lembrar do quanto eu era fã dessa banda e com os anos, a deixei de lado como um amigo antigo de primeiro grau. Impossível melhor hora pra ti teres postado este texto, servindo como um puxão de orelhas em mim, em tempo de apreciar o último trabalho da banda com o Iggor (e o Roorback, que me envergonho em dizer que não sentei pra ouvir!).
E tens toda razão (e falo não como brasileiro, mas como apreciador da “barulheira” e creio que tu também), a banda é uma referência mundial na inovação desse estilo de música (metal), abusando da criatividade não só no quesito batuque&riffs, mas no tratamento visual e conceitual dos álbuns (são poucas bandas que executam este último ítem com propriedade!). Além do mais, endossando o que já disseste, a banda foi versátil, transitando do trash com pitadas de industrial do Chaos, passando pelas ricas (e divisoras de águas, como bem falaste) experimentações do Roots até o Against e a ousada incorporação de instrumentos orientais e com uma sonoridade mais hardcore. Apenas não concordo contigo quanto a letras políticas, pois antes do Sepultura, o Megadeth já tinha letras superpolitizadas.
Com relação ao Soufly, tu sabes mais que ninguém, nunca gostei muito desse novo tipo de metal. Claro, não fecho os ouvidos pra essa vertente, pois estaria sendo intransigente. Mas a banda do Max só me animou com o primeiro disco. Sou mais do hardcore.
Abraço sepulcral
Diego
poisé,
a notícia vinha pintando por aí há um tempo, mas a assessoria d imprensa da banda só desmentia. Acabei d ler a agora oficializada saída do Igor.
Q bela merda...
será q ele vai correr pro abraço com o max? é esperar pra ver...
diego...
quanto ao disco novo do soulfly, esse te digo q vale muito a pena ouvir... pelo menos a primeira metade é trash bem na linha q tu gosta.
segue um link pra tu baixares o album...
http://rapidshare.de/files/14224879/Soulfly-Dark_Ages-2005.rar.html
Desde ha muito eu reclamo do fundamentalismo musical no meio metól; trocar uma ideia sobre musica com um sujeito que so escuta black metal eh como discutir religiao com um xiita, eh impossivel. Em mundo divido pelo sectarismo politico e religioso, era so o que faltava sectarismo musical...
Mas bueno, sepultura foi minha primeira banda do coracao, conheci na epoca do lancamento do Arise, que ainda considero o melhor de todos. Depois da saida do Max, a banda caiu um pouco no meu gosto pessoal, mas cheguei a ter o roots e o sepulnation. Mas sei la, nao eh minha praia. Nada contra uma banda mudar o estilo, pelo contrario, tocar a vida inteira o mesmo tipo de musica deve ser horrivel. E so fazem isso aqueles que tem medo de desagradar os fas ou a gravadora, ou seja, muitas vezes os vendidos sao os que se mantem como mumias ambulantes com medo de arriscar experiencias que, acredito, todo artista por excelencia deve querer.
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