quarta-feira, 9 de novembro de 2005

Às vezes, dramático

Às vezes, eu tenho vontade de descobrir que tenho uma doença terminal, que pode me matar amanhã ou daqui a dez anos. Ou vinte. Pra ver se consigo achar um sentido nisso tudo.

Às vezes
, acho que a crise de meia-idade se adiantou um pouco pra mim, já que sou hoje o mesmo homem que serei na meia-idade. Trabalho como um homem de meia-idade, engordo como um homem de meia-idade e tenho dores de cabeça como um homem de meia-idade.

Às vezes, eu penso que se fizessem um filme da minha vida, ele seria um saco. Mesmo que o diretor fosse o Cameron Crowe. Ninguém quer sentir o que sinto, ou entender os meus atos. As pessoas querem ver personagens extraordinários que são ou incrivelmente bem-sucedidos ou incrivelmente fracassados.

Já eu não consigo ter sucesso nem mesmo em ser um fracasso.

Às vezes, acho que estou no modo piloto automático e quando chego em casa à noite, alguém desliga a chave. Sem saber o que fazer eu choro, suplicando que liguem de novo.

Às vezes, percebo que temos tão pouco tempo e jogamos uma metade dele dormindo (ok, um terço... mas arrendonda aí) e a outra metade trabalhando. Se eu morresse hoje, não deixaria nada de interessante sobre mim neste mundo. Algumas memórias, lembranças de pessoas que me conheceram. Todos querem deixar sua marca por aqui.

Não, eu não quero confetes.

Quero saber quais são as suas melhores lembranças a meu respeito.

5 comentários:

Marcos Campos disse...

Poxa... não sei se consigo escrever um comentário bom pra ti, pois também estou neste exato momento ligado no piloto automático e devo ter alguma restrição em minha programação para que não faça coisas legais, pois o dia mal começou e estou improdutivo pra craralho.

Abraço.

Ana Margarites disse...

Eu não sei qual é a melhor lembrança de ti, só sei que todas são boas... simplesmente não lembro de nada ruim que te envolva

Lembro quando te conheci, o gurizinho bem novinho na minha turma, com aquelas covinhas quando sorria. E apesar de ranzinza (lembra que dizíamos que tu eras aquele smurf? "eu odeeeio"), sorria bastante

Lembro de nóis dois sentados no meio fio na frente da odonto, caindo de bêbados, vestindo as roupas da Festa Brega. Lembro que tu foi assaltado, voltando pra casa, e o assaltante se surpreendeu com a medalha que tu levava no bolso: "Campeão de volei, cara?!"

Lembro que era bom passar a mão no teu cabelo bem curtinho. Lembro quando tu entrou pro quartel e quase ficou louco

Lembro da tua insegurança sobre teu trabalho, pois tu te sentias incapaz de atingir a excelência técnica de alguns dos nossos colegas. Até que um dia tu assumiu que era bom ser porco, e criou a pork art

Lembro de um trabalho sobre figura e fundo que tu fez, onde aparecia um morcego com uma seringa enfiada na testa. Que droga tu tomou?

Lembro da tua fantasia na festa hippie. Tu parecia o Austin Powers. E eu parecia a Courtney Love

Lembro do teu persongem no nosso RPG, que era um cara fortão e meio burro. Tu ficava coçando a cabeça e fazendo uma cara de Groo, a aventura inteira

Eu lembro da festa rave, tu lembra?

Lembro da tua imitação daquele nosso professor (não vou citar o nome, o google tudo vê): "Eu choreeeei no balé em Paris". Eu não lembro do professor dizer isso, mas não tem como esquecer a tua imitação

Lembro de uma vez que levei a Julia na aula de multimeios e tu ficou embalando o carrinho com o pé

Lembro que começamos a nos interessar mais seriamente por política na mesma época. Lembro que teu "ódio contra as instituições" foi gradativamente sendo substituído por um pensamento mais analítico, tentando entender o porquê das coisas serem como são

E eu acho tão massa tu continuar pensando sempre nos motivos das coisas, não se deixando embrutecer pela vida que a gente tem que levar...

Lembra do nosso "concurso de canto" na formatura da Otavia? Eu tu e o Paki, no teu fusca, cada um cantando uma música, o mais alto que conseguia. Nós perdemos, por que começamos a rir do vocal gutural do Paki. Hoje ele canta numa banda e ninguém ri dele

Lembro daquela vez que a gente virou a noite na minha casa, perto da formatura, fazendo a animação "Os Designers Biônicos Intergaláticos que vieram do Espaço Sideral". Lembra como o Beastie Boys encaixou direitinho com a animação? Parecia uma daquelas sincronias sinistras com discos do Pink Floyd

Lembro de quando tu foi morar em Santa Catarina e eu fiquei com saudade, acompanhando a tua vida através do fotolog

Lembro quando tu foi pra POA e nós conversávamos todos os dias no MSN, esperando o dia em que poderíamos tomar uma cerva juntos

Lembro de ti, sentado na sala da minha casa, algumas semanas atrás, com o olhar apaixonado de expectativa de quem aguarda o nascimento do filho

Eu lembro de tanta coisa, nunca vou esquecer de nada

Anônimo disse...

como nos aproximamos mais depois que terminamos a faculdade, minha lista definitivamente, não é do tamanho da da anap, mas lembro de ter assistido alguns desses bons momentos citados por ela...

da época da facul, lembro de ti quietinho no fundo da sala, tocando a tua bateria imaginária, coçando a barba em alguns momentos, e sempre muuuuito atento às colocações que os colegas faziam (muito mais, creio, que às dos professores... ;)).
lembro de ti relembrando sistematicamente dos capítulos do chaves e/ou chapolin colorado, até dar vontade de te bateeeer "cale-se, cale-se, você me deixa looouco". e concordo com a ana paula que a tua imitação de um certo professor foi a melhoooor.
tenho aqui no meu mural uma fotinho da festa do dia das bruxas da casa da otavia. e não dá pra não sorrir lembrando das guerras que vocês travavam a respeito da trilha sonora das nossas festinhas...
comentava agora com anap que tenho minhas dúvidas sobre se assisti a cena de ti embalando a jujuba no carrinho, ou se construí na minha mente a partir do que ela me contou. seja como for, adoro-a.
lembro daquele teu risinho debochado, salientando a tua covinha... esquerda talvez? quando as surtadas (tipo eu) se paravam a despejar todos os milhões de coisas que tínhamos que fazer, sempre em pouquíssimo tempo. aí, invariavelmente, retomavas a pork art já citada, olhavas pra minha cara e dizias "calma, ana. caaaalma".
lembro que, por mais ferrenha que fosse a discussão (ideológica ou não que se instaurasse), tinhas geralmente a calma dos justos, e expunhas tua opinião da maneira mais serena que jamais julguei que alguém tão indignado e apaixonado pudesse fazer. sempre admirei isso. nunca perdeste teus argumentos.

mas eu lembro meeeesmo, balu, das nossas conversas pelo msn. daquelas que tínhamos quando eu tava grávida, e quando me ouvias, e perguntavas, bem curioso, a respeito de tudo que eu sentia, de como aquilo estava mudando minha vida, do quão especial era passar por aquilo. foste uma pessoa fundamental naquele processo. e adoro, meu amigo, poder retribuir a participação agora, quando é a tua vez de te inserir nesse novo, assustador e maravilhoso mundo.

mas quer saber que imagens anexei no teu arquivo da minha memória e que, espero, não sairá daqui tão cedo? o teu sorriso largo e teus olhos brilhando em dois momentos na visita que me fizeste, há 3 semanas atrás.
1. ao ver a Leandra brincando com a Duda no sofá.
2. ao receber o carinho da Dudu na barba, na hora da despedida.

caríssimo, as lembranças são nossas, e são parte do que nos constrói. mas elas são só o combustível pra que a gente continue se movimentando, sempre. grande beijo!

pablodelarocha disse...

porras,
muito obrigado a todos pelos comentários. Ultimamente vcs têm se tornado meus psicólogos.

Só que realmente incentivadores.

Fiquei arrepiado lendo todos... TODOS os comentários. O nó na garganta foi foda.

Valeu mesmo!
Beijos e abraços.

pablodelarocha disse...

"Fiquemos com nossas tristezas. são melhores que as falsas alegrias da conformidade de um domingo assistindo Faustão."

adorei isso, meu caro amigo